terça-feira, 13 de novembro de 2007
Lembrando o Samboto...saudades do terreno!
Uma viagem ao fim da tarde que demorou 4 horas com direito a um furo pelo caminho e tudo…
Dormimos na rua…tocámos e cantámos até muito tarde e acordámos cedíssimo com a comunidade toda a olhar para nós. Era dia de distribuição do PAM antes da saída definitiva deles da zona. Muito falámos nós na saída do PAM da Província…questões de desenvolvimento que nos colocam sempre muitas dúvidas. O argumento era a estabilidade que se fazia sentir no país…o contra-argumento (nosso) era a cultura de dependência que se tinha criado durante décadas…muitas comunidades deixaram de cultivar…as terras deixaram de produzir e assim, quase de um dia para o outro o PAM sai de uma região onde a taxa de subnutrição grave é altíssima….enfim….debates metodológicos.
A Cris veio connosco nesta viagem ao Samboto...uma animação!
terça-feira, 6 de novembro de 2007
Coisas que acontecem....em Luanda


segunda-feira, 29 de outubro de 2007
As cucas e o monopólio
- descobrir os nomes das ruas desta cidade. As coisas aqui ficam sempre perto de qualquer coisa, antes da vala, depois da vala, na rotuda do aeroporto (que descobri ser do Liceu) na rotunda da sede do partido, na rotunda da loja do chinês…. …descobrir os nomes seria uma tarefa que nos ocuparia algum tempo (não conheci ninguém ainda que me soubesse dizer o nome da rua onde moro actualmente…a morada oficial é…a rua não asfaltada que fica na continuação do Banco Totta…ainda bem que só existe uma sucursal).
- definir o valor das ruas…peace of cake! Aqui as ruas que valem mais são as que correspondem às moradas das pessoas importantes da província ou de locais importantes como a sede do partido ou o palácio do Governador. (Nota: estas ruas das pessoas importantes definem também as prioridades nos cruzamentos…a regra da direita só funciona se o condutor não vier da rua ou do governador ou de algum chefe do partido. Ora adivinhem lá o que existe na rua de onde venho? Conduzir aqui é um desafio. Normalmente e na dúvida, o melhor é…abrandar. Curioso é o conselho que me foi dado pelo Augusto, o Director Local da CCF…ele aconselhou-me a “avançar sem medo” nestas situações de dúvida quanto às prioridades. Eu prefiro seguir os meus instintos medrosos e continuo a abrandar).
A procura de casa...
Encontrei um apartamento muito simpático, reabilitado, mobilado, com uma renda ligeiramente mais baixa do que os valores de mercado praticados…com alguns problemas de energia (o gerador ao qual estou ligada funciona raramente…ainda não percebi porquê) e de água mas dada a dificuldade e o desgaste deste processo acabei por decidir ficar com este e não procurar mais….Bom, verdade seja dita que tinha encontrado uma outra casa…a casa verde…fantástica, linda, também mobilada . Muito engraçada mas a falta de entendimento entre o proprietário e o intermediário -enquanto um dizia que a casa estava sim senhora para alugar o outro dizia que não estava nada- desisti.… verdade é também que os intermediários continuavam a mostrar a casa verde a quem a quisesse ver…
sexta-feira, 26 de outubro de 2007
Há dias assim...
Há dias assim…em que nada funciona. A Internet não liga, os carros avariam, a chuva provoca poças de 50cm de profundidade e muita lama em todo o lado e não dá para voltar a pé para casa…dias em que ninguém atende os telefones, o gerador não funciona, a energia da rede também não, as pessoas ficam doentes e tudo isto num dia só. Nem um café expresso…
quinta-feira, 25 de outubro de 2007
Pensamento 1_ A exclusão social em Angola (memórias de uma experiência)
A experiência ao serviço de um projecto desenvolvido por uma ONG Portuguesa, em parceria com a Administração da Província do Huambo e do Município de Ucuma (Município onde o projecto foi desenvolvido), com o grande objectivo de melhorar a qualidade do ensino no Município através da formação pedagógica de professores e de formação ao nível da gestão escolar dos directores de escolas do I nível e dos responsáveis municipais pela área da educação foi o mote para esta reflexão que partilho. Hoje estou mais resolvida mas a gestão das emoções associadas às dificuldades de implementação no terreno geraram…muitas angústias.
A compreensão da comunidade, dos seus interesses, das suas vontades das suas leituras sobre a realidade acabaram por me fazer cair num grande vazio conceptual. Defendendo, por deformação profissional, a participação e envolvimento das comunidades nos seus próprios processos de mudança, deparei-me com um estrutura social bastante hierarquizada, com um esquema de controlo político muito grande, muitas vezes impeditivo de processos de tomada de consciências das comunidades do seu papel no seu próprio desenvolvimento.
A presidente da OMA no Ucuma era um homem….porquê? Por escolha das próprias, foi a resposta dada à curiosidade de quem é “de fora e por isso não percebe as nossas escolhas”.
Ao mesmo tempo, duplicam-se as acções de formação desenvolvidas tanto por ONG´s locais ou internacionais ou mesmo pelo Ministério da Educação, reconhecidas como importantes por todos. “Aprender é bom…ajuda a lutar contra o obscurantismo do homem e a construir o amanhã”.
A educação escolar e a formação profissional são reconhecidas pelo Governo Angolano como fundamentais na reconstrução nacional e na união de todos os angolanos, mas também como factor de reconstrução e reabilitação do homem. Esta ideia é tão reconhecida pelo poder político como pelo poder tradicional.
Senti que a escola era uma forma de reprodução do sistema que se faz sentir em Angola e não como espaço de dinamização e revitalização do tecido social angolano. Senti também que a escola era um instrumento de controlo que promovia a discriminação e a exclusão daqueles que eram diferentes, para além de não se explorar a questão da identidade pessoal. A escola é o local onde se aprendem coisas que não fazem muito sentido mas…onde se deve ir porque é importante.
A baixa auto-estima, a falta de confiança nas pessoas, a ausência de balizas morais, a falta de fé e de crença num futuro diferente (até mesmo no futuro…a taxa de suicídio na província do Huambo é bastante alta), a falta de espaço (e de estímulo) para a criatividade individual condicionam as opções feitas pelas pessoas, justificando muitas vezes a resignação[4] ao que a vida lhes proporciona e a crença em que o governo (o partido) resolverá todas as dificuldades e problemas.
Falar por isso de exclusão em Angola é falar da situação em que vive a maioria das pessoas.
Exclusão pela dificuldade no acesso à educação.
Exclusão pela precaridade de empregos e falta de perspectivas no futuro.
Exclusão pela pobreza (muitas vezes prolongada).
Exclusão pela fragilidade dos laços sociais, provocada pelo longo conflito armado.
Exclusão pela perda de referências.
Exclusão pelo sentimento de falta de identidade (quem é o angolano?) derivada da grande diversidade étnica.
Exclusão sobretudo pelo não reconhecimento dos direitos de cidadania.
A verdade é que a ausência de Estado-Providência e a situação de exclusão do mercado de trabalho em que vive a maioria da população resulta na exploração de estratégias alternativas de sobrevivência, normalmente através de iniciativas informais geradoras de algum rendimento (seja ela comércio ou subornos ou outros esquemas mais criativos). A filiação partidária é, para muitos, uma solução para a situação de exclusão (mesmo que na prática não resolva a questão do emprego e, por isso, da exclusão económica contribui para a aceitação social).
Concordo que “os principais factores explicativos da pobreza e da exclusão devem ser procurados na sociedade, no modo como a sociedade se encontra organizada e como funciona, no estilo de vida e na cultura dominantes, na estrutura de poder – factores que se traduzem em mecanismos sociais que geram e perpetuam a pobreza e a exclusão” (Costa, A.B, 1998:39), tendo o debate entre o Norte e o Sul de percorrer ainda um longo percurso de debate e análise destes fenómenos. A conclusão é a de que um entendimento global destes fenómenos não passa por uma teoria global que proponha uma solução global, mas por teorias locais que proponham entendimentos locais, soluções locais à luz de um quadro (inevitavelmente) global.
A importação de ideias, conceitos e práticas não se faz sem enganos.
E Angola está a mudar....[1] LANDES,D.S. (2002) A riqueza e a pobreza das nações. Porque são algumas tão ricas e outras tão pobres. Lisboa. Gradiva (p. 485)
[2] LANDES,D.S. (2002) A riqueza e a pobreza das nações. Porque são algumas tão ricas e outras tão pobres. Lisboa. Gradiva (p. 494)
[3] Em Março de 2005, numa entrevista dada à TPA (Televisão Pública de Angola), o Ministro das Obras Públicas afirmou que a “gasosa” (nome vulgar dado ao suborno) era uma forma de comunicação e de entendimento entre a autoridade e a sociedade civil.
[4] O espírito do “aceita só”, sem perguntas ou comentários.